Tradução de Joana Morais Varela
78 páginas
Carmen de Burgos (Almería, 1867 – Madrid, 1932), polifacetada autora de uma extensa obra, foi ficcionista, jornalista, tradutora, conferencista, e publicou uma série de biografias, livros de viagens e manuais práticos. Distinguiu-se nas primeiras décadas do século xx como incansável defensora dos direitos da mulher e de muitas ideias reformistas, como a lei do divórcio ou o sufrágio universal. A partir de 1915, manteve uma estreita relação com o nosso país. Escreveu sete novelas de ambiente português, dedicou muitas das suas crónicas a Portugal, a políticos republicanos e escritores portugueses, foi colaboradora do jornal O Mundo, professora na Faculdade de Letras de Lisboa, conferencista na Academia das Ciências e agraciada com a Ordem de Santiago de Espada. Criou a Cruzada das Mulheres Espanholas, que, com a Cruzada das Mulheres Portuguesas, integraria a partir de 1922 a Liga Internacional de Mulheres Ibéricas e Hispano-Americanas. A sua obra foi proibida durante a ditadura espanhola.
«Gosto do impensado, do incerto; atrai-me o desconhecido; o encanto do livro que não se leu e da partitura que nunca se ouviu. Não compreendo a existência das pessoas que se levantam todos os dias à mesma hora e comem o cozido no mesmo sítio. Se fosse rica, não tinha casa. Uma mala grande e sempre em viagem. Detendo-me onde me agradasse, fugindo do enfadonho […] aspirando o aroma das coisas sem as analisar. Fazer um palácio com cemitério e tudo para viver e morrer no mesmo lugar parece que nos torna iguais aos moluscos.»
«Autobiografia», em Prometeu — Revista Ilustrada de Cultura, Agosto de 1909.
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